Na
reunião ordinária do CONSEMA, em Serra Talhada, no dia 24 de novembro último,
um dos principais temas em discussão foi “Apresentação
do Projeto Suape Sustentável e do andamento do passivo ambiental, com o
balizamento técnico e legal utilizados e seus procedimentos”.
Mas apenas o
“andamento do passivo ambiental” pôde ser tratado, pois o Projeto Suape
Sustentável estava sendo ainda objeto de discussão naquele momento.
A apresentação, com o título desta postagem, ficou a cargo de Adriane
Mendes Mota, da Diretoria de Engenharia e Meio Ambiente do Complexo Industrial
de Suape.
Foi apresentada uma
síntese dos 11 Termos de Compromisso assumidos pelo CIPS perante os órgãos de
controle ambiental, a partir de levantamento dos passivos ambientais do
Complexo até 2010.
Inicialmente,
foi discutida uma tabela com solicitações de supressão vegetal, desde o Termo
de Compromisso 002/98. Os quantitativos foram: 608 ha de mangue, dos quais
foram suprimidos 42,2 ha; 210 ha de Mata Atlântica, correspondentes a 190
indivíduos, dos quais foram suprimidos 140,58 ha; e 176 ha de restinga, dos
quais 10,58 ha já foram suprimidos.
Foi
informado sobre a aprovação, naquele mês de novembro, em que se realizava a
reunião do CONSEMA em Serra Talhada, de um novo Plano Diretor, com validade até
2030, que contém novo zoneamento do Complexo, inclusive um acréscimo de 11% na
área da ZPEC (Zona de Proteção Ecológica, que atinge um total de 6.872 ha, onde
só são permitidas atividades de pesquisa e preservação). A ZPEC é dividida em:
Mata Atlântica, Restinga e Manguezal.
O
CIPS criou, para a área de Mata Atlântica, o Projeto de Diagnóstico e Restauração
da ZPEC, por meio do qual se disponibilizam áreas para compensação ambiental,
para uso tanto pelo Complexo quanto pelas empresas, por meio de convênios. O
Projeto, num total de R$ 338 milhões, dos quais mais de 90% referem-se a
indenizações, é previsto para ser executado ao ritmo de cerca de 150 ha por
ano, ao longo de cerca de 15 a 20 anos. Em 2011, primeiro ano, estima-se a
restauração de 200 ha. A
alta proporção das indenizações no total dos custos tem sido cada vez mais
frequente na região, dificultando os trabalhos de restauração.
Segundo
a responsável pela apresentação, esse projeto e o de restauração de manguezais
são os primeiros e serão seguidos por outros, o que “reflete
em um ganho ambiental nunca antes acontecido no Estado, além do marco da
erradicação do passivo ambiental de SUAPE”.
A
restauração compreende áreas abandonadas (custos com isolamento, retirada de
fatores antrópicos, etc.), área de cana-de-açúcar (onde é necessária a retirada
da cana, correção do solo, retirada de espécies invasoras, etc.) e áreas
edificadas dos posseiros a serem retirados.
Até
o final do primeiro semestre de 2011, o panorama do Projeto de Restauração
mostrava: 14 ha reflorestados, do Termo de Compromisso nº 39; 9 ha do Termo de Compromisso
nº 47; e 13 ha dos Termos de Compromisso nº 56, 74 e 77, de 2008, e 27 e 36 de
2009. Além
disso, outras áreas já foram adquiridas e liberadas: com 21, 92, 8,9 e 90,5 ha,
todas áreas de cana-de-açúcar.
O
CIPS assinou, em junho de 2011, juntamente com o Governo do Estado de
Pernambuco o Pacto pela Restauração da Mata Atlântica (http://www.pactomataatlantica.org.br/index.aspx?lang=pt-br).
Com
relação às áreas de manguezais, está sendo desenvolvido um grande projeto de
restauração, apresentado em maio de 2011 ao IBAMA e à CPRH, a ser trazido ao
CONSEMA/PE, cujo levantamento já feito compreendeu 95,38 km2 de
áreas de mangue do litoral sul, sendo 76% em Ipojuca, 14% em Sirinhaém e 8% no
Cabo de Santo Agostinho.
No
que diz respeito às áreas de restinga, mencionou-se a autorização para
supressão de 39,1402 ha de restinga para o estaleiro PROMAR, autorização
contida na Lei nº 14.046. Está sendo feito, nessas áreas de restinga, trabalho
de reflorestamento, inclusive com experimento de transplante de solo.
O
EIA/RIMA de Suape foi do ano 2000 e previa 20 Programas Básicos Ambientais
(PBAs), tendo sido feita uma síntese da situação desses programas.
O
representante da UPE, no momento do debate, solicitou maior detalhamento sobre
o cumprimento dos Termos de Compromisso, diante da grande quantidade de itens
constantes da tabela apresentada no início da exposição.
A
solicitação se deveu ao fato de existir, segundo ele, uma concepção generalizada
de que o Complexo Industrial Portuário de Suape (CIPS) “não faz o dever de casa”
quanto aos danos ambientais que provoca. Quais as razões, questionou o
representante da UPE, para o Complexo ter essa fama?
Foi
explicado que o conjunto de dívidas que compõem esse passivo ambiental do
Complexo Suape tem início com o Termo de Compromisso 002/98, decorrente da Lei
nº 11.517/97. A Lei nº 14.046, de 2010, autorizou, para o cluster naval, mas ainda não foi realizada, a supressão 508 ha de
mangue, 17 ha de Mata Atlântica e 173 ha de restinga.
No
debate foi mencionado que o passivo atualmente em discussão refere-se apenas às
exigências legais a partir dos anos 1980 e, portanto, não inclui os antigos
questionamentos feitos ao projeto nos anos setenta. Fica difícil, no entanto, segundo
o mesmo representante da UPE, para os não especialistas, distinguir essas
etapas, especialmente diante de tantos discursos em favor do crescimento
elevado e acelerado, que estão no centro do debate acerca das relações entre a
produção de bens e serviços e a preservação da natureza.
A
propósito, o representante da UPE mencionou o trabalho, sobre esses
questionamentos, feitos já nos anos setenta, apresentado pelo economista
ecológico Clóvis Cavalcanti, em 2008, no Encontro da Associação Nacional de
Pós-Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade – ANPPAS (o trabalho está
disponível em: http://www.anppas.org.br/encontro4/cd/ARQUIVOS/GT2-633-327-20080519205905.pdf).
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